“Pai, pequei contra ti!”

    Na quarta-feira de cinzas, com a austera cerimônia da imposição das cinzas, iniciamos o itinerário penitencial da Quaresma. Trata-se de um tempo de quarenta dias de jejum, penitência e de conversão sincera em preparação para a Páscoa do Ressuscitado.

    “Pai, pequei contra ti…” (Lc 15, 18). Estas palavras, no período da Quaresma, suscitam singular emoção, sendo este um tempo em que a Comunidade eclesial é convidada à profunda conversão. Se é verdade que o pecado fecha o homem a Deus, ao contrário, a sincera confissão dos pecados abre-lhe a consciência à ação regeneradora da Sua graça. Com efeito, o homem não encontrará de novo a amizade com Deus enquanto não brotarem dos seus lábios e do seu coração as palavras: “Pai, pequei”. O seu esforço, então, torna-se eficaz pelo encontro de salvação que se verifica graças à morte e ressurreição de Cristo. É no mistério pascal, coração da Igreja, que o penitente recebe como dom o perdão das culpas e a alegria do renascimento para a vida imortal.

    Quando nós nos afastamos de Deus, pelo pecado e pela vida sem a graça divina, é necessário procurar a amizade com Deus, com a mudança de vida, que chamamos de conversão. É nesse tempo forte que vamos purificar nossas muitas dificuldades e pedir a Deus a graça de uma vida renovada, de reconhecer que pecamos contra Deus e contra os irmãos, e buscar a graça renovadora. A certeza de que Deus “é bom e me ama” é mais forte do que a vergonha e o desânimo: com uma luz nova ilumina o sentido da culpa e da própria indignidade. Quando nos aproximamos da confissão podemos dar o terceiro passo que a quaresma nos pede: o retorno para junto de Deus e a vivência de sua graça. Uma coisa é importante para o Pai dos céus: o filho foi reencontrado. O abraço entre ele e o filho pródigo torna-se a festa do perdão e da alegria. Comovedora é esta cena evangélica do encontro do filho pródigo com o seu pai, que manifesta em cada pormenor a atitude do Pai do Céu, «rico em misericórdia» (cf. Ef 2, 4).

    Essas três atitudes: primeiro – procurar a Deus, o encontro com Deus; segundo a conversão; e terceiro o retorno para junto de Deus fará com que cada um de nós possamos entrar na mística do jejum, da oração e da penitência para renovar a nossa vida e viver na graça de Deus.

    Uma boa confissão no tempo da Quaresma é fundamental no cumprimento da lei da Igreja: “confessar-se todos os anos pela Páscoa do Senhor!”. Uma confissão completa, auricular, precedida de um prévio exame de consciência e de uma consciência profunda de mudança e vida nos ajudará a sermos acolhidos por Deus e pela Igreja. O pecado nos ronda e muitas vezes caímos. Mas é sempre tempo de recomeço. É sempre tempo de mudança de vida e de conversão. A atitude do católico é aquela de quem dá a mão para quem está caído e não daquele que se vangloria pela desgraça alheia. Lembremos de que Deus é misericórdia e acolhe a todos. E, o principal, apesar de nossos pecados, havendo arrependimento sempre Deus será o primeiro a nos dar a sua mão generosa e caridosa para reiniciarmos o caminho do Seu seguimento e do Seu discipulado.

    Na Quaresma a Mãe Igreja, pautada pela Palavra de Deus, nos pede uma conversão profunda e a crer no Evangelho, e a Igreja nos indica na oração, na penitência e no jejum, assim como na generosa ajuda aos irmãos os meios, através dos quais podemos entrar no clima da autêntica renovação interior e comunitária.

    Somente uma autêntica conversão, nos ajudará percorrermos a peregrinação quaresmal com o olhar fixo em Cristo, nosso único Redentor.

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