O jovem jesus

              “Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem…” Com essa afirmativa quase poética e inusitada definição da pessoa de Jesus é que o Papa Francisco inicia sua mais recente exortação apostólica, desta feita dirigida aos jovens cristãos e, simultaneamente, a todo o Povo de Deus. “Deixei-me inspirar pela riqueza das reflexões e diálogos do Sínodo do ano passado”, confessa. Ao mesmo tempo, reporta: “Notemos que Jesus não gostava que os adultos olhassem com desprezo para os mais jovens ou os mantivessem, despoticamente, ao seu serviço” (14), enquanto constata: “não devemos pensar que Jesus fosse um adolescente solitário ou um jovem fechado em si mesmo” (28).

    Ao contrário, o jovem Jesus viveu seu ideário com vigor e intensidade jamais vistas. Bastaram-lhe três anos para deixar sua marca. “Teve a coragem de enfrentar as autoridades religiosas e políticas do seu tempo; viveu a experiência de Se sentir incompreendido e descartado; experimentou o medo do sofrimento e conheceu a fragilidade da Paixão; dirigiu o seu olhar para o futuro, colocando-Se nas mãos seguras do Pai” (31). O Papa reconhece que “a Igreja de Cristo pode sempre cair na tentação de perder o entusiasmo” se não se deixar renovar. Sua esperança são os jovens. Estes, só estes, “podem conferir à Igreja a beleza da juventude” (37), ajudam-na a “reconhecer humildemente que algumas coisas concretas devem mudar e, para isso, precisa de recolher também a visão e mesmo as críticas dos jovens” (39) E admite: “Uma Igreja na defensiva, que perde a humildade, que deixa de escutar, que não permite ser questionada, perde a juventude e transforma-se num museu” (41).

    Os jovens são “o agora de Deus”. Habituamos a colocar o protagonismo dos jovens na história como esperança do futuro. Francisco é mais ousado :”Depois de observar a Palavra de Deus, não podemos limitar-nos a dizer que os jovens são o futuro do mundo: são o presente, estão a enriquecê-lo com a sua contribuição” (64) “Por isso, o coração de cada jovem deve ser considerado ‘terra santa’, diante da qual nos devemos ‘descalçar’ para poder aproximar-nos e penetrar no Mistério” (67). Todavia nossos jovens padecem com as anomalias de um mundo desigual, descrente, violento, sectarista e hedonista. “Não podemos ser uma Igreja que não chora à vista destes dramas” (75). Mas, “se o drama não te vem, pede ao Senhor que te conceda derramar lágrimas pelo sofrimento dos outros. Quando souberes chorar, então serás capaz de fazer algo, do fundo do coração, pelos outros” (76). Não coloquemos nossos jovens no armário dos descartes e das inutilidades… Senão pela sua alegria, ao menos pela beleza e vitalidade que irradiam, ainda são nossa maior riqueza.

    Para tal, necessário se faz acabar com todas as formas de abuso. Em qualquer circunstância e local. Dentro da Igreja especialmente, onde qualquer grau de abuso ou desdém, ou abandono, ou indiferença… “não diminui sua monstruosidade”. É hora da prevenção, “que permite evitar a repetição dessas atrocidades”. A Igreja continua Santa, apesar dos seus pecadores. “Os nossos pecados estão à vista de todos; refletem-se, impiedosamente, nas rugas do rosto milenário da nossa Mãe e Mestra. Com efeito, deste há dois mil anos que ela caminha… Não tem medo de mostrar os pecados dos seus membros, que às vezes alguns deles procuram esconder. Lembremo-nos, porém, que não se abandona a Mãe quando está ferida, mas acompanhamo-la para que tire fora de si mesma toda a sua força e capacidade de começar tudo de novo” (101).

    Então o Papa nos lembra o quão salutar é a vida em comunhão, nunca isolada da realidade, em especial a vida cristã. “Quando vos entusiasmais por uma vida comunitária, sois capazes de grandes sacrifícios pelos outros e pela comunidade; ao passo que o isolamento vos enfraquece e expõe aos piores males do nosso tempo” (110).

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