O Espírito de Penitência

    Durante a quaresma todos os cristãos são chamados a viver ainda mais  profundamente o espírito de penitência. A penitência é uma virtude  absolutamente necessária para que se obtenha a remissão das faltas graves ou leves e, sem essa virtude o Sacramento da Confissão não produz o seu efeito. Com efeito, a penitência é uma virtude sobrenatural que tem por fim destruir no íntimo do coração o pecado e oferecer à justiça divina uma satisfação pela ofensa que  foi feita ao Ser Supremo ao se desprezar um dos dez mandamentos.  É a virtude pela qual o pecador se dispõe a readquirir a amizade  com Deus. A Bíblia mostra  que o rei Davi, no apogeu de sua glória, arrastado pelas paixões desregradas, esqueceu-se de suas obrigações e caiu em muitos pecados graves que escandalizam o povo. O profeta Natan, enviado por Deus, foi procurá-lo e energicamente o repreendeu (2 Sm, cap. 12). O rei Davi, perturbado e humilhado, reconheceu os seus erros e arrependeu-se. No salmo 50 assim se expressou: Piedade de mim ó Deus, pela vossa misericórdia e pela vossa grande clemência apagai os meus delitos. Lavai-me inteiramente de minha culpa e purificai-me de meu pecado, pois reconheço meus crimes e o meu pecado, tenho-o sempre diante de mim (Sl 50 1-5). Ai está o primeiro ato da virtude da penitência: reconhecer os seus pecados e humilhar-se diante de Deus, Isto, porém,  não basta. É preciso ainda arrepender-se e detestar o pecado, desejando o que disse o mesmo Davi: Formai em mim, ó Deus, um coração puro, e infundi em mim um novo espírito constante (Sl 50, 12). Isto significa que há uma disposição firme de não mais se cair no erro.  É este arrependimento profundo e verdadeiro que se deve ter, não nos lábios, mas no íntimo da alma que aspira uma renovação total. A tudo isto é preciso que se ajunte a reparação à justiça divina através dos trabalhos e sofrimentos da vida  ofertados em  desagravo ao Criador desprezado. Eis a verdadeira virtude da penitência: detestar os pecados, arrepender-se sinceramente, aceitar com resignação as provas da existência e impor-se certas mortificações, para desagravar a justiça divina. Esta virtude da penitência é, assim, necessária para a salvação. Como Maria Madalena, como Santo Agostinho, como São Jerônimo e tantos outros santos é necessário fazer penitência. Este é o convite que a Igreja dirige  aos fiéis nestes dias da quaresma bem na alheta do que disse Jesus: Se não fizerdes penitência todos vós perecereis (Lucas 13,3) . Trata-se de cumprir com coragem o dever de cada dia, de se ter paciência, sobretudo, no trato com o próximo, enfim, o empenho na prática de todas as virtudes. É deste modo que o verdadeiro discípulo de Cristo se prepara para o maior dia do ano que é a data da Páscoa,  o glorioso 8 de abril. Vale o alerta de um grande santo: Temo a Jesus que passa e pode não voltar. Na quaresma Ele vem a cada coração pedindo uma renovação total através do espírito de penitência e mister se faz corresponder a este seu chamado celestial para se obter todas as graças da Semana Santa e, mormente, do dia da Páscoa.