O cristão, um ser espiritual

    Pelo batismo o Espírito Santo torna o cristão um ser espiritual. Desta sublime realidade muitos não estão plenamente cônscios. Não se trata de ser super-cristãos que conhecem experiências místicas, sobrenaturais, como ocorreu com muitos santos, mas dos autênticos seguidores de Cristo, os quais no dizer de São Paulo se distinguem do homem animal, pois “esse não acolhe as coisas que são do Espírito de Deus” (1 Cor 2,14) O homem espiritual, além da alma racional, possui um dom especial da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade que o dirige no seu agir. Penetra fundo nas verdades superiores à razão humana e pode perscrutar as profundezas de Deus.  É que o cristão, ainda que não esteja dominado por paixões pecaminosas, mas que se deixa levar pelas imperfeições e se apega aos bens materiais, não é suficientemente espiritual. É sempre um catecúmeno na fé procedendo de uma maneira humana, não combatendo decididamente a carne e as más inclinações da natureza decaída. A exigência, porém, de Cristo foi clara: ”Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5. 48). Trata-se do caminhar do cristão que deve buscar a santidade numa trajetória contínua, num compromisso sério e radical com a dinâmica do Reino celeste. É preciso, de fato, que se evitem os pensamentos e comportamentos influenciados pelo espírito do mundo absorvendo mensagens deletérias difundidas pela mídia.  Todas as exortações do Novo Testamento convidam os cristãos a se deixar instruir por Deus, a progredir na fé e no amor. Quem não procura avançar na prática das virtudes corre sempre o risco de regredir se tornando um ser carnal (1 Cor 3,1). Quantas vezes pode acontecer a um cristão ter atitudes pagãs, ações mundanas, revestindo-se de hábitos contrários ao que Cristo ensinou no Sermão da Montanha. É evidente que os batizados não progridem espiritualmente no mesmo ritmo. Há, contudo, a necessidade de uma conversão contínua para seguir Jesus e o servir. É preciso sempre uma mudança decisiva produzida pela atuação da graça de Deus. São Paulo mostrou como o cristão deve se despojar do homem velho e de todas suas más ações, revestindo o homem novo “que se vai renovando à imagem de seu Criador para atingir a plenitude do conhecimento de Deus.” (Col 3, 10).  Aos Efésios o mesmo Apóstolo mostra então o ideal a ser atingido: “Até chegarmos todos juntamente à unidade da fé, a plena noção do Filho de Deus, ao estado de homem perfeito, até alcançarmos a medida da plena estatura de Cristo¨ (Ef. 4,13). Deste modo, Jesus, luz e vida, permanece, constantemente, na existência de seu discípulo que renuncia a si mesmo, toma a sua cruz de cada dia e corajosamente O segue. Dá-se desta maneira um aprofundamento da Palavra de Deus, uma melhor compreensão da sua vontade, uma                     mentalidade nova, liberta das influências perniciosas do maligno e seus sequazes. Isto permite ver todas as coisas numa luminosidade nova, ou seja, aquela do amor de Deus manifestada em Cristo (Rm 12,2). Há, pois, precisão do afastamento da maneira de pensar e de agir que são incompatíveis com o seguimento do Mestre divino. Tal deve ser o ideal do homem espiritual na marcha para a maturidade cristã procurando estar repleto do Espírito Santo, como aconselhou São Paulo aos Efésios (Ef 5,18). Assim vai desaparecendo o homem carnal, dado que o fiel se deixa conduzir pelo Espírito de Deus sem nunca O entristecendo (Ef 4,30) ou mesmo O extinguindo (1 Tes 5,19). Cumpre, porém, acrescentar que todos os cristãos são santos, mas nem todos são plenamente espirituais. São santos porque pertencem a Deus, santificados em Cristo, possuem a graça santificante, mas nem todos progridem como os espirituais que vivem mais intimamente unidos a Deus. Mesmos os espirituais têm que avançar initerruptamente nesta união com o Ser Supremo, pois são também seres contingentes e Deus é infinitamente perfeito e santo. Entretanto, é de se notar que nem os que vivem em estado de graça se julgam superiores aos pecadores, nem os que estão mais próximos de Deus se julgam superiores aos bons cristãos, porque em todos não há lugar para o orgulho. Com efeito, todos estão conscientes das palavras de Cristo: “Sem mim nada podeis fazer”. Portanto, a prática de qualquer virtude e todo o progresso espiritual é fruto unicamente da graça recebida e correspondida. Para todos a vida espiritual não é estática, mas uma caminhada com Cristo num crescimento ininterrupto. Não se trata de se interrogar cada um sobre o nível de santidade que já alcançou, mas, sim, de verificar se está ou não caminhando ou paralisado, sujeito a regredir. Todos cientes do que disse o salmista: “Se observardes, Senhor, as nossas falsas, quem poderá subsistir”. Não se deve nunca fazer um julgamento dos outros, mas cuidar cada um de sua ascensão espiritual, tendo o coração limpo e sabendo amar a Deus e ao próximo.

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