O bispo vive e testemunha o estilo de Jesus!

    Este dia 07 de junho de 2017 é para todos nós, da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, um dia muito feliz devido à nomeação do mais novo Bispo Auxiliar para esta nossa querida Arquidiocese. Trata-se do Monsenhor Juarez Delorto Secco, a quem recebemos com imensa alegria no coração e júbilo na alma. Obrigado, Papa Francisco, por dar ao Povo de Deus aqui reunido um grande Pastor.

    Monsenhor Juarez Delorto Secco, sacerdote até agora na Diocese de Cachoeiro do Itapemirim, ES, depois de ter trabalhado como formador do Seminário, pároco da Catedral e em várias paróquias, Defensor do Vínculo na Câmara Auxiliar da Diocese e no Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Vitória, agora é chamado para colaborar conosco como Bispo Auxiliar.

    Aproveito a oportunidade, como já pude fazer em outras ocasiões semelhantes, para refletir um pouco a respeito da figura do Bispo Auxiliar junto ao Bispo Diocesano à luz dos ensinamentos da Igreja, incluindo, é óbvio, o Código de Direito Canônico vigente e as sábias palavras que o Papa Francisco nos tem dirigido, com certa frequência, pedindo que sejamos os primeiros servidores do povo, pastores com o “cheiro das ovelhas”.

    No encontro com o Clero, Consagrados e Seminaristas de Gênova, Itália, no dia 27 de maio último, o Santo Padre colocou – em palavras fortes e ao mesmo tempo cheias de misericórdia, por assim dizer –, o perfil daquele que serve a Deus na doação total de si mesmo.

    Fala o Papa: “Eu diria que quanto mais imitarmos o estilo de Jesus, tanto melhor realizaremos o nosso trabalho de pastores. Este é o critério fundamental: o estilo de Jesus. Como era o estilo de Jesus na qualidade de pastor? Jesus estava sempre a caminho. Os Evangelistas, com as nuances específicas de cada um, sempre nos fazem ver Jesus a caminho, no meio das pessoas, a ‘multidão’, diz o Evangelho. O Evangelho distingue bem os discípulos, a multidão, os doutores da lei, os saduceus, os fariseus… O Evangelho distingue: é interessante. E Jesus estava no meio da multidão”.

    “Se imaginarmos como deveria ser a organização do horário do dia de Jesus, lendo os Evangelhos podemos afirmar que passava a maior parte do tempo na rua. Isto quer dizer proximidade das pessoas, proximidade dos problemas. Não se escondia. Mas, à noite, muitas vezes escondia-se para rezar, para estar com o Pai. Acerca de Jesus, narra-se que rumo à Paixão ele foi a Jerusalém decididamente”.

    “E, como todos aqueles que caminham, Jesus estava exposto à dispersão, a ser ‘fragmentado’. […] o maior medo no qual devemos pensar, que podemos imaginar, é uma vida estática: uma vida típica do sacerdote que tem tudo bem resolvido, tudo em ordem, estruturado, tudo no seu lugar, os horários – a que horas abre a secretaria, a igreja fecha a tal hora… – Tenho medo do sacerdote estático. Tenho medo. Também quando é estático na oração: rezo de tal a tal hora. Mas não tens vontade de ir passar com o Senhor uma hora a mais, a fim de olhar para Ele e de te deixares olhar por Ele? Esta é a pergunta que eu dirigiria ao sacerdote estático, que tem tudo perfeito, organizado…”

    “Diria que uma vida assim, tão estruturada, não é uma vida cristã. Talvez aquele pároco seja um bom empresário, mas pergunto-me: é cristão? Ou pelo menos, vive como cristão? Sim, celebra a Missa, mas o seu estilo é cristão? Ou talvez seja um crente, um homem bom, vive na graça de Deus, mas com um estilo de empresário. Jesus sempre foi um homem de rua, um homem a caminho, um homem aberto às surpresas de Deus. Ao contrário, o sacerdote que tem tudo planificado, tudo estruturado geralmente está fechado às surpresas de Deus e perde aquela alegria da surpresa do encontro. O Senhor conquista-te quando não esperas, mas estás aberto. Um primeiro critério é não temer esta tensão que nos cabe viver: estejamos na estrada, o mundo é assim. É um sinal de vida, de vitalidade: um pai, uma mãe, um educador está sempre exposto a isto e vive a tensão. Um coração que ama, que se entrega, sempre viverá assim: exposto a esta tensão”.

    “Far-nos-á bem, fará bem a todos os sacerdotes recordar que somente Jesus é o Salvador, não há outros salvadores. E talvez pensar que Jesus nunca, nunca, se ligou às estruturas, mas ligava-se sempre às relações. Se um sacerdote vir que na sua vida o seu comportamento está demasiado ligado às estruturas, algo não está bem. E Jesus não fazia isto, Jesus ligava-se às relações. Uma vez ouvi um homem de Deus – penso que vão introduzir a causa de beatificação deste homem – dizer: ‘Na Igreja deve-se viver aquele ditado: ‘mínimo de estruturas para o máximo de vida, e nunca máximo de estruturas para o mínimo de vida’”.

    “Sem relações com Deus e com o próximo, nada tem sentido na vida de um sacerdote. Farás carreira, irás para aquele lugar, para aquele outro; àquela paróquia da qual gostas ou entrarás numa (terna) terra para ser bispo. Farás carreira. Mas o coração? Permanecerá vazio, porque o teu coração está ligado às estruturas e não às relações, às relações essenciais: com o Pai, com Deus, com Jesus e com as pessoas. Esta é um pouco a resposta sobre os critérios que desejo indicar-vos. ‘Mas, Padre, o senhor não é moderno… Estes critérios são antigos… ’. A vida é assim, filho! São os velhos critérios da Igreja que são modernos, ultramodernos”!

    “É uma citação extensa, porém como não ler aí a trajetória de um bom sacerdote chamado por Deus a servir à Igreja no grau máximo do serviço, que é o episcopado. Poderia parecer que o Bispo é alguém que vive no topo, que manda e desmanda. Ao contrário, Deus nos ajude a entender a vida episcopal como o Senhor Jesus a entende: o maior é aquele que serve (cf. Mt 20,26). Em outras palavras, o episcopado pode ser traduzido no lema de São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Pregadores, conhecidos como dominicanos(a): de dia, fala de Deus na vida e na pregação, à noite, fala com Deus na oração”.

    Desejo, dentro deste importante acontecimento, refletir sobre o significado pastoral, teológico e canônico desse momento da vida de nossa Igreja Particular. Embora todos saibam que o Rio é uma Arquidiocese e, por isso, tem à frente, como primeiro servidor, um Arcebispo, usarei aqui os termos Bispo diocesano, Bispo auxiliar e Diocese, uma vez que essas palavras são comuns à praxe pastoral, ao passo que os apelativos Arcebispo e Arquidiocese se referem mais a uma questão canônico-administrativa.

    Convém lembrar que “a Diocese é uma porção do Povo de Deus confiada ao pastoreio do Bispo com a cooperação do presbitério, de modo tal que, unindo-se ela ao seu pastor e, pelo Evangelho e pela Eucaristia, reunida por ele no Espírito Santo, constitua uma Igreja Particular, na qual está verdadeiramente presente e operante a Igreja de Cristo una, santa, católica e apostólica”. (Código de Direito Canônico, cânon 369)

    Pois bem, essa Diocese tem à frente um Bispo, chamado de diocesano, pois é o primeiro responsável no serviço do Povo de Deus a ele confiado. Em circunstâncias de grandes necessidades pastorais, o Bispo diocesano pode pedir à Santa Sé um ou mais bispos auxiliares. Estes são chamados de titulares, pois recebem o título de uma antiga diocese que havia outrora, mas hoje não mais existe. Eles ajudam o Bispo diocesano nos trabalhos pastorais sem direito certo à sucessão. Quem pode suceder um Bispo diocesano, em funções especiais (limite de idade, doença etc.) é o Bispo coadjutor, não, porém, o auxiliar (cf. cânones 376 e 403, § 1-3). Os auxiliares ou coadjutores agem dentro da Diocese de acordo com as prescrições dos cânones 403-411 e de mais algum documento dado em sua nomeação.

    Ao falar isso, lembramo-nos de uma antiquíssima tradição da Igreja que diz estar Ela congregada ou reunida em torno de seu Pastor, segundo Santo Inácio de Antioquia, no início do século II, ao escrever: “Sem o Bispo não é permitido nem batizar nem celebrar o ágape (Eucaristia). Tudo, porém, que ele aprovar seja agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer, seja seguro e legítimo”. (Carta aos Esmirnenses, 8)

    O sacerdote nomeado para o ministério episcopal passa a ser, automaticamente, chamado de Monsenhor até que receba a sagração – aí tem o termo Dom antes do nome – em uma bela cerimônia, na qual devem estar presentes um Bispo como sagrante principal e mais dois co-sagrantes ao menos, para dar autêntico significado à colegialidade apostólica desejada por Cristo ao constituir os Apóstolos e seus sucessores. Via de regra, um número maior de Bispos, e não apenas três ou quatro, tomam parte dessas cerimônias, demonstrando, assim, apoio e fraternidade colegial com o recém-sagrado. (Cf. cânon 1014)

    Na Igreja vigora o princípio da subsidiariedade, ou seja, o Bispo tem autonomia em sua Diocese naquilo que diz respeito à sua missão de Pastor daquele Povo a ele confiado.

    Agradeço ao Santo Padre, o Papa Francisco, este maravilhoso presente: a nomeação de Monsenhor Juarez Delorto Secco para nos ajudar a melhor servir o Povo de Deus que está no Rio de Janeiro.

    Seja bem-vindo, caro irmão no Batismo, no Sacerdócio ministerial e, em breve, no Episcopado. Nós o acolhemos com grande alegria evangélica.

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