Igreja Colômbia: o voto não é um não à paz, mas aos acordos

Cidade do Vaticano (RV) – Na Colômbia o referendo do último domingo sobre o acordo de paz com as FARC foi recusado. O “não” ao acordo assinado entre o governo e o grupo guerrilheiro para a pacificação do país, prevaleceu sobre o “sim” com 51,3% das preferências, com uma diferença de 65 mil votos. “O cessar-fogo é bilateral e definitivo, não vou desistir: vou buscar a paz até o último dia do meu mandato” declarou o Presidente Santos. A Rádio Vaticano conversou com o Presidente da Conferência Episcopal da Colômbia, Dom Luis Augusto Castro Quiroga:

R. – Antes de tudo é preciso dizer que o “sim” e o “não”, não fazem referência à paz. Não é que alguns dizem sim à paz e outros dizem não; fazem referência somente ao acordo para se chegar à paz. Aqueles que dizem não consideram que o acordo dever ser corrigido em alguns pontos e por isso disseram não, porém também eles desejam a paz. Portanto, isso não é um caso de guerra e paz, mas simplesmente de continuar a trabalhar juntos neste processo de paz para incluir as mudanças desejadas, se é possível. Não é uma situação tão desesperada, ninguém diz: “agora voltamos à guerra”, ninguém quer a guerra, nunca mais, porém querem uma paz melhor que não se sabe se se possa alcançar. Um ponto difícil, de fato, é o da justiça transicional. A justiça transicional facilita – por isso se chama “transicional” – a passagem do lado da guerra ao lado da paz. Agora, aqueles que votaram não dizem que é uma justiça muito fraca, é preciso a prisão para os líderes guerrilheiros… Porém, a experiência dos últimos 80 conflitos que se registraram no mundo é que todos se resolveram com a justiça transicional, e que se se aplicar outra justiça, a justiça penal normal, nenhum guerrilheiro entraria em um processo de paz. Por isso, é preciso estudar muito bem este ponto. O convite da Igreja a toda a Colômbia foi: continuemos a trabalhar pela paz. Agora, esses números que foram divulgados com o “não” ao processo implicam que se comece um diálogo novo; um diálogo não tanto com a guerrilha, também com ela, mas antes de tudo com as forças políticas do país. Até agora, de fato, sabemos que o ex-Presidente Uribe e o Presidente Santos não se falam… também isso tornou o acordo de paz difícil.

P. – Neste contexto quais são os cenários que se abrem neste momento no caminho em direção à paz na Colômbia?

R. – O primeiro cenário é o de um diálogo entre os delegados do governo que dialogaram em Havana, com a guerrilha, e a guerrilha mesma, para estudar a problemática. O segundo cenário é esse que eu disse: o encontro entre o Presidente da República e as forças políticas do país para estudar a maneira de continuar no diálogo. Depois há outros aspectos importantes. Por exemplo, a guerra parou, ninguém quer, nem a guerrilha, nem o exército, porque a decisão é já clara: nunca mais a guerra. Portanto, são aspectos muito importantes e muito positivos que continuam enquanto se resolve o problema das votações. Além do mais, parece-me que é necessário dizer que é muito importante, também para nós como Igreja, trabalhar pela reconciliação dos colombianos, e também esses resultados são expressões de uma falta de reconciliação. Muita gente ainda não consegue perdoar, por diversos motivos. Há conflitos interiores entre uns e outros, por isso devemos continuar a trabalhar pela reconciliação de todos os colombianos. Isso também facilita chegar a acordos mais facilmente e que sejam mais efetivos. Enfim, diria que agora, após esse resultado, é necessário pensar a uma pedagogia da paz porque muitos votaram “não”, simplesmente porque não entendiam do que se tratava. Muitos votaram “não” porque não perceberam o valor daquilo que se estava fazendo, porque não receberam uma explicação simples, clara, fácil para eles. Portanto, esta é a situação, e como Igreja devemos pedir a todos os católicos da Colômbia para que continuem a rezar pela paz, porque a paz é uma tarefa nossa mas é também um dom de Deus e devemos pedi-la ao Senhor que sabe transformar os corações.

 

Fonte: Rádio Vaticano

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here