Exercícios espirituais: redescobrir o céu cheio de estrelas

Olhar para o alto, reencontrar a maravilha, descobrir os sinais do Senhor. São os pontos abordados na meditação da tarde de quinta-feira (14/03) do abade Gianni nos Exercícios Espirituais ao Papa e à Cúria Romana em Ariccia

Cidade do Vaticano

Capturar o “encontro da graça” na noite para viver a Quaresma de um novo modo; contemplar as estrelas para encontrar os sinais de Deus; tornar-se poeta da Criação e monge da voz interna de cada um de nós; dar palavras ao silêncio para nos redescobrir autênticos. Esses são alguns dos pontos da meditação da tarde de quinta-feira (14/03) do abade Bernardo Gianni, por ocasião dos Exercícios Espirituais para o Papa e a Cúria Romana, em Ariccia.

A poesia do firmamento repleto de estrelas

O beneditino recorda o profeta Baruc, o Eis-nos das estrelas que brilham de alegria por causa d’Aquele que as criou, chamado à luz da vigília pascal que rompe as trevas e que se abre ao amor, ao fogo “que despedaça as pedras do sepulcro e reconduz à plenitude da vida”. Versos que recordam a poesia de Mario Luzi – afirma o abade – ou o Cântico das Criaturas de São Francisco onde a lua e as estrelas são “agente e sujeito daquele louvor”. Estrelas que surgem para nos dizer que a Páscoa é o epicentro da esperança.

 … de um amor que muda radicalmente a história, que muda os corações dos homens, que abre perspectivas inéditas, de esperança que hoje nós queremos recolher para nos preparar, através da Quaresma, para celebrá-las com toda a pureza do coração, a consciência do pensamento, a força de esperanças necessárias para que não possamos de nenhum modo subestimar a grande importância da Páscoa na nossa vida pessoal, comunitária e eclesial.

Tudo é reflexo de Deus

Na meditação do monge Gianni, entra também a poesia de Cesare Pavese para mostrar “o olhar antagônico” respeito ao profeta Baruc e a Luzi, quando o autor fala de “estrelas que dizem nada”: reflexo de um momento histórico difícil pela aproximação da Segunda Guerra Mundial. É o homem que não espera mais nada, “um coração desesperado e desesperador”.

Ousar o silêncio

Portanto a noite torna-se o “momento da vigilância que o silêncio propicia”, “o sinal, o indício, os vestígios de alguém que está nos procurando”. É o convite a “ousar o silêncio, a ousar um espaço fecundo daquela misteriosa contemplação que – diz o abade – finalmente reconduz o nosso coração a um possível e novo maravilhamento”, para nos darmos conta que “vale a pena erguer-se do chão e olhar para o alto se reconhecemos no firmamento uma grande mensagem de beleza e de amor que o Senhor nos doa para que nos orientemos pelos caminhos do mundo”.

O pequeno monge do nosso coração

Com estas sugestivas imagens, o beneditino recorda que apenas “retirando-se no silêncio e na solidão, o homem se expõe ao real na sua nudez”, a um vazio no qual prova a presença de Deus. É o risco do monge – “um pequeno monge do nosso coração” – que vive do essencial e ali redescobre a comunhão com os homens.

A Igreja e o tempo suspenso

Prosseguindo o abade fala da Igreja como de um percurso, “portanto a luz, os sons, os espaços devem ser narração de um itinerário, porém entrando na Igreja o tempo se interrompe porque está suspenso.

Pode-se recuperar uma interioridade através da suspensão da monotonia cotidiana, que na realidade é a vida profissional. Neste aspecto, acredito que os mosteiros sejam uma reserva de significado, de sentido e de missão para o nosso tempo, ou seja, são lugares nos quais – como dizia Thomas Merton – entra-se na diocese da noite e no ministério do silêncio porque ao sair desta rotina obrigatória e diária, tomada por horários prementes, as pessoas podem redescobrir a graça de um tempo que se suspende e a possibilidade de finalmente olhar para o alto e redescobrir o céu cheio de estrelas.

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