Esperança para uma Sociedade enferma

    Tempos atrás, quando falamos de uma “sociedade doente”, algumas vozes discordantes levantaram a questão sobre o assunto. Creio que, diante de tantas barbáries que não cessam de acontecer em nosso país (e também no mundo), caberia uma reflexão.
    O assunto de nossa festa de São Sebastião (trezena e o dia) foi sobre a Família e a Solidariedade. Dois tópicos de um universo imenso de necessidades que teríamos que refletir. Ressoa em minha mente a palavra do Papa São João Paulo II: “o futuro da humanidade passa pela família”. Também vivemos o Ano da Família em nossa Arquidiocese, junto com o Ano Mariano, justamente como eco das preocupações do Papa Francisco, que, logo no início de seu pontificado, convocou uma Assembleia extraordinária e depois um Sínodo Ordinário sobre a Família e publicou, como consequência dessa consulta, o documento “Amoris Laetitia”, sobre a importância da família hoje.
    O Papa Francisco tem se manifestado sobre a realidade do mundo de hoje: “Como é possível que perdure a prepotência do homem sobre o homem? Que a arrogância do mais forte continue a humilhar o mais fraco, relegando-o às margens mais esquálidas do nosso mundo? Até quando a maldade humana semeará violência e ódio na Terra, causando vítimas inocentes? Como pode ser ‘tempo da plenitude’ quando, diante dos nossos olhos, multidões de homens, mulheres e crianças fogem da guerra, da fome, da perseguição, dispostos a arriscar a vida para que sejam respeitados os seus direitos fundamentais”? (Cf. http://pt.aleteia.org/2016/01/01/papa-francisco-ate-quando-a-maldade-humana-semeara-violencia-e-odio-na-terra/, último acesso em 12 de janeiro de 2017.)

    A sociedade está enferma! É necessário que a democracia seja a base de uma grande transformação nacional, de modo que o Estado, com urgência,  passe a cumprir seu papel. Se começarmos isso hoje – e parece que ainda não iniciamos essa nova trajetória… – ainda levará muitos anos para vermos bons resultados. Mas, é preciso fazer! Quanto às famílias, é premente o resgate da convivência fraterna, da responsabilidade dos pais, da orientação e do acolhimento das crianças e jovens. Faltam os valores que, caminhos errados de ideologias que nos dominaram, nos levaram a perder na sociedade muitos valores importantes, embora ainda tenhamos muitos homens e mulheres que vivem com generosidade e heroicidade sua vida de família e solidariedade.
    Encontramos na fé cristã a inspiração, a força e a resistência para enfrentar o presente cenário de gravidade de nosso tempo. Deus, em sua infinita sabedoria, deu o livre arbítrio aos seres humanos. Muitos, entretanto, estão usufruindo essa prerrogativa de maneira equivocada. É premente reencontrar os valores da serenidade de espírito, bondade, solidariedade, fraternidade e paz! Quando tais virtudes são esquecidas, a violência toma conta dos seus espaços.
    Diante das chacinas ocorridas ultimamente no Brasil, o Papa Francisco assim se pronunciou: “Eu gostaria de renovar o meu apelo para que instituições prisionais sejam locais de reabilitação e reintegração social e que as condições de vida dos detidos sejam dignas de seres humanos”. (Retirado do site: 1.globo.com/mundo/noticia/papa-francisco-diz-estar-preocupado-apos-massacre-em-presidio-de-Manaus.ghtml, Último acesso: 12/01/2017). O Papa Francisco já recebeu detidos no Vaticano e, em suas viagens ao exterior, muitas vezes visitou prisões, e isso tem se tornado uma regra nas visitas apostólicas.
    O Estado brasileiro, falho em suas responsabilidades constitucionais, políticas e filosóficas (estas dizem respeito à sua função básica de proporcionar vida digna à população), não é, porém, o único culpado pela violência que se vai disseminando no País, que tem extrapolado cada vez mais o universo da criminalidade. A mídia mostra diariamente o grande número de homicídios no âmbito das famílias, vizinhos, brigas nas ruas, nas casas noturnas… tudo, infelizmente, por causas banais. Parte da sociedade parece contaminada pelo vírus da ferocidade. Um sintoma grave e preocupante! Não só nos relacionamentos pessoais, mas também, lamentavelmente, nas mídias sociais.
    A violência também emana no vácuo da desestruturação da família no Brasil. Os filhos são cada vez mais isolados da convivência no lar e distantes do pai e/ou da mãe. São decrescentes o diálogo, os abraços fraternos, a convivência nas casas, a discussão do mundo sob a ótica da bondade, da justiça, da tolerância e do amor. Prevalece a individualidade e, com ela, o egoísmo, a ambição e a solidão. Às drogas, que tornam os jovens, inclusive de classe média e da alta, presas fáceis do crime, muitos pais fecham os olhos como se, ao ignorar o problema, ele deixasse de existir.
    Vivemos em momentos de grandes decisões! Temos um país a reconstruir, que perdeu importantes valores humanos e morais. Não será fácil viver a verdadeira democracia e construir juntos um mundo mais humano e fraterno. Todas as forças vivas de nossa sociedade necessitam estar unidas e procurando o bem comum. As influências negativas do exterior e a pressão de entidades e grupos internacionais, que têm interesses de dominação ideológica, com suas intervenções em nossa liberdade e com o poder da Comunicação, vão aos poucos minando ainda mais nossa sociedade e tornando-a frágil.
    O Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações, recordou-nos muito bem: “Creio que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas «notícias más» (guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de falimento nas vicissitudes humanas). Não se trata, naturalmente, de promover desinformação onde seja ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num otimismo ingénuo que não se deixe tocar pelo escândalo do mal. Antes, pelo contrário, queria que todos procurássemos ultrapassar aquele sentimento de mau-humor e resignação que muitas vezes se apodera de nós, lançando-nos na apatia, gerando medos ou a impressão de não ser possível pôr limites ao mal. Aliás, num sistema comunicador onde vigora a lógica de que uma notícia boa não desperta a atenção e, por conseguinte, não é uma notícia, e onde o drama do sofrimento e o mistério do mal facilmente são elevados a espetáculo, podemos ser tentados a anestesiar a consciência ou cair no desespero”. É um trecho de sua mensagem para o 51º Dia Mundial das Comunicações que tem como tema: «“Não tenhas medo, que Eu estou contigo” (Is 43, 5). Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo».
    Diante de um mundo complexo e intolerante, um país ferido e uma sociedade enferma, cabe a nós anunciarmos a Boa Nova que tudo pode ser transformado e renovado, e nós somos enviados a ser sinais dessa esperança. Como nos lembra o Papa em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações: “Quem, com fé, se deixa guiar pelo Espírito Santo, torna-se capaz de discernir em cada evento o que acontece entre Deus e a humanidade, reconhecendo como Ele mesmo, no cenário dramático deste mundo, esteja compondo a trama duma história de salvação. O fio com que se tece esta história sagrada é a esperança, e o seu tecedor só pode ser o Espírito Consolador. A esperança é a mais humilde das virtudes, porque permanece escondida nas pregas da vida, mas é semelhante ao fermento que faz levedar toda a massa. Alimentamo-la lendo sem cessar a Boa Notícia, aquele Evangelho que foi «reimpresso» em tantas edições nas vidas dos Santos, homens e mulheres que se tornaram ícones do amor de Deus. Também hoje é o Espírito que semeia em nós o desejo do Reino, através de muitos «canais» vivos, através das pessoas que se deixam conduzir pela Boa Notícia no meio do drama da história, tornando-se como que faróis na escuridão deste mundo, que iluminam a rota e abrem novas sendas de confiança e esperança”.

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