Em Roma, reflexão sobre como fortalecer diálogo sobre a Amazônia depois do Sínodo

O Sínodo é um espaço privilegiado de discussões sobre a Amazônia. Reúne religiosos que vivem na prática a rotina dos povos da floresta, os principais estudiosos e especialistas nas questões ambientais e sociais da região. Para que as sugestões apresentadas aqui possam beneficiar as populações locais, para além do documento final que será apresentado ao Papa no fim do evento, os participantes do Sínodo discutiram na manhã de hoje, dia 14 de outubro, como fortalecer o diálogo sobre os desafios da Amazônia após as discussões realizadas no Vaticano.

Uma das propostas apresentadas foi a criação de um observatório internacional contra a violência dos direitos humanos na Amazônia, que ajude a divulgar os problemas da região e, assim, chamar a atenção das autoridades para a resolução dos conflitos que envolvem a população da floresta. Outra proposta é a articulação da Igreja para propagar os direitos ambientais, a quarta geração de direitos humanos em discussão no mundo. Segundo os participantes, a Igreja tem um papel fundamental em fortalecer a busca da comunidade por um ambiente sustentável, sem agressões ao meio ambiente e aos povos vulneráveis que vivem na floresta.

Outra questão apontada foi a necessidade de fortalecer a comunicação na Amazônia. A transmissão de informações é dificultada pelas distâncias e pelas barreiras no acesso à internet, mas, para os participantes do Sínodo, é preciso discutir maneiras de melhor se comunicar na região e, também, de formar comunicadores católicos nas comunidades.

Os padres sinodais concordam que é preciso fortalecer estruturas para levar adiante o que está sendo discutido no Sínodo para Amazônia. Entretanto, não há consenso se é preciso ou não criar novas instituições para isso.

Segundo o bispo emérito de Puerto Ayacucho, na Venezuela, dom José Angel Divasson Cilveti, no grupo de discussão que ele participa há os que acreditam que é preciso fazer uma instituição eclesial na Amazônia, enquanto outros pensam que o melhor é não ter muitas organizações. “O que se argumenta é que não podemos multiplicar em excesso as entidades que trabalham na região. Já temos a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), que não é apenas uma organização e sim uma grande rede”, explicou dom José Angel, que atua com povos ianomâmis na Venezuela.

Representantes da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e a Solidariedade (CIDSE), uma entidade que reúne organizações católicas de desenvolvimento da Europa e América do Norte, trouxeram um testemunho do trabalho que fazem nos continentes que atuam. Segundo a secretária-geral, Josianne Gauthier, a instituição vai atrás das histórias de quem precisa de ajuda e leva essas demandas à esfera política, inclusive a órgãos internacionais, como as Nações Unidas. “Acredito que, no Brasil, qualquer instituição que for criada para dar voz aos povos da floresta vai ser sempre bem vinda”, afirmou Josianne.

Foto: Manuela Castro/CNBB

O índio Jose Gregorio Diaz Mirabal, do povo Warinuma da Venezuela, fez um apelo para que se crie um canal de comunicação entre os indígenas e as instituições de poder no mundo. “Pedimos ao Papa Francisco e ao Sínodo que nos ajudem a sentar para conversar com os poderosos atuais, como o FMI, o Google, o Banco Mundial, que eles nos ouçam como está acontecendo no Sínodo. Somos os mártires da Amazônia, é preciso que se entenda as consequências da grilagem de terras, da mineração, das hidrelétricas, da contaminação da terra, do ar, da água, tudo o que faz mal para o nosso povo”, desabafou.

Manuela Castro | Cidade do Vaticano

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