Ecos de muitas palavras

    Em agosto de 2004 uma senhorinha da qual nunca soube o nome me procurou. Dizia ser responsável por uma coluna semanal que escrevia para minha diocese em vários órgãos de comunicação. Estava cansada e necessitava de ajuda. Pediu-me que a substituísse por alguns dias, pois conhecia meu trabalho como escritor e missionário. Diante de tamanha humildade e simpatia não tive como lhe negar esse favor. O tempo foi passando, passando e nunca mais me encontrei com a boa velhinha – que não sei se vive ou já partiu para os braços do pai. Semana vinha, semana ia e fui ficando. Dez anos se passaram. Mais de quinhentos artigos, temas diversos, assuntos mil… e aqui estou.
    Não sei se cumpri ou não essa tarefa, com a mesma humildade dela. O quão difícil foi chegar a essa marca, sim. Mas, olhando para trás, vejo que foi um longo e maravilhoso aprendizado, um gesto de perseverança que muito me ajudou nesse exercício de garimpar as mensagens que só o Espírito é capaz de nos revelar e fazer transbordar de nossa insignificância as exortações que Deus nos faz constantemente. Por isso, a coluna de hoje é uma homenagem a esse anjo maravilhoso que um dia cruzou meu caminho. Destaco algumas frases colhidas ao longo desses dez anos.
    “Dos poços de nossas incertezas, inseguranças e dilemas devemos fazer brotar a fonte adormecida da água pura, cristalina, da fé que buscamos. Sem ela a humanidade sucumbirá de sede”. (2004)
    “Nosso maior erro é definir a felicidade como conquista efetiva de um bem almejado, um sonho a se alcançar. Dessa forma, a felicidade estará sempre à frente, fugindo-nos matreira e fogosa por detrás da insaciável busca e da confusa definição que possuímos ao seu respeito. O que seria, afinal, felicidade?” (2005)
    “Façamos uma escala proporcional. Sendo o Sol uma pequena azeitona, a Terra seria um grão de areia a uma distância de 90 cm. A estrela mais próxima, outra azeitona, estaria a 220 km de distância do nosso “Sol”. Melhor engolirmos essa azeitona!” (2006)
    “Quando o sol bate, brilha e, assim, mostra o brilho de Deus. Fiquei a imaginar: se cada cristão batizado, por mais insignificante que fosse, pudesse refletir esse brilho no ambiente onde Deus o colocou!… Mas de utopia o mundo está cheio. O que nos falta é um banho de coerência, para que a “rocha sagrada” onde se assenta a igreja-viva, o templo que somos, possa merecer um dia sua cúpula dourada, a coroa dos anjos e santos dos céus”. (2007)
    “O brilho da fé vai além das aparências que forjamos em nossas vidas, das máscaras que vestimos, do barro que nos cobre. A fé é translúcida, contagiante, irremediavelmente solidária com todos que nos cercam, fazem parte dessa descoberta”. (2008) “Se você ainda não se deu conta da importância da vida, saiba que ela é um milagre. Você é um milagre! Dê graças a Deus por não lhe terem abortado”. 2009
    Na ante-sala de uma mesa operatória, quando meu coração quis se rebelar, tive forças para escrever: “Sair vivo ou morto é indiferente quando nos entregamos nas mãos Daquele que guia nossos passos, nossa vida”. (2010)
    “Perpetuar-se… Vencer não na vida apenas, mas a vida e sua maior oponente, a morte. Isso não é mera ideologia, nem utopia. Esse é o maior sucesso que a fé cristã pode nos apontar: a prosperidade eterna”. (2011) “Qualquer manifestação de fé só é passível de avaliação a partir do coração em que ela se revela” (2012)
    “O fato é que na esteira dos sonhos de grandeza e poder muitos sucumbem. Não há no mundo uma história de sucesso permanente quando esta se constrói num pedestal de mentiras e subterfúgios”. (2013)
    “Então é isso: a Igreja nasceu um andar acima da realidade conflituosa que cerceia a humanidade; um degrau acima dos nossos dilemas e inseguranças.” (2014)