Cantai, cristãos, afinal

    Caríssimos amigos e irmãos: Feliz Pascoa! O senhor ressuscitou verdadeiramente, Aleluia! Verdadeiramente ressuscitou. Esta é a saudação utilizada pelos orientais nestes dias tão importantes e alegres. Nossa liturgia é festiva. Inaugura-se o oitavo dia, o dia que não termina, o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos! (Sl 118, 24). Depois de termos vivido os dias de quaresma e o tríduo pascal, a Igreja coloca em nossos corações e em nossos lábios esta alegria, que não pode ser uma alegria que venha somente da exterioridade, mas de um coração renovado e transbordante de alegria porque se reconciliou com o Senhor.

    Nossas lutas, dificuldades e problemas continuam aqui e acolá. As coisas ao redor não se transformam automaticamente. Mas nós nos colocamos ante as coisas como alguém que se renovou interiormente, e por isso mesmo se torna sinal da alegria divina e da misericórdia de Deus. Mesmo quando os discípulos de Jesus estavam na prisão ou os mártires eram conduzidos para sua oferta final, eles ali cantavam os louvores de Deus, ali anunciavam Jesus Cristo Ressuscitado. Essa celebração deve se tornar cada vez mais presente em nossos corações para que possamos proclamar sinceramente que aquele que por nós morreu e foi sepultado, está vivo hoje, entre nós, e nós somos suas testemunhas.

    Se a liturgia deste dia é solene, muito mais deve ser a nossa própria vida. Nosso coração transbordante de alegria independe das circunstâncias ao nosso redor. Somos nós que somos renovados e transformados para que contagiemos o mundo com a alegria pascal.

    Iniciamos a oitava de Páscoa e o tempo Pascal, e teremos 50 dias de celebração para que possamos contemplar, aprofundar e fazer vida as realidades do mistério que estamos celebrando e que agora faz com que busquemos as coisas do alto, as coisas de Deus. O mistério da Páscoa é central em nossas vidas; norteia não somente o ano Litúrgico, mas toda a nossa vida. Se Cristo não ressuscitou, vã é nossa fé. Que o Senhor nos dê a possibilidade de experimentar o que significa que Cristo Ressuscitou e que possamos também traduzir este significado, para que as pessoas ao nosso redor entendam o que significa Ressurreição, deixar a vida velha e viver a vida nova, vencer a morte e vencer o pecado.

    Na liturgia desta solenidade a primeira leitura (At 10, 34a.37-43), Pedro com um discurso querigmático anuncia que é testemunha da ressurreição do Senhor. Tal discurso acontece na casa de um soldado romano, Cornélio. Ali Pedro apresenta o essencial da figura de Jesus, o que fez e ensinou e relata de forma especial o fato da ressurreição de Cristo, colocando esta como motivo de uma ação concreta na vida das testemunhas: é necessário comunicar a todos as maravilhas do Senhor ressuscitado.

    Eis o desafio para nós: que possamos anunciar a todos que o Senhor está vivo e contagiar ao nosso redor, principalmente aos que estão doentes, enfermos, assolados pela violência e pelas dificuldades.

    O salmo responsorial, o salmo 117 (118), traz como refrão o grande grito de alegria pascal, este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos! Em sua origem, este salmo parece ter sido a oração de gratidão de um Rei após a sua Vitória. Nesta vitória se manifesta a força da misericórdia do Senhor e assinala os efeitos de confiar no Senhor. O Novo Testamento utiliza as expressões deste salmo aplicadas ao Cristo, o Rei Vencedor, o Messias que triunfou da morte, aquele que é a pedra angular, rejeitada pelos homens, mas glorificada pelo Pai.

    Na segunda leitura (fizemos opção por Cl 3, 1-4), as consequências da ressurreição do Senhor também nos são apresentadas: se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto!  Na parte do livro denominada de vida nova em Cristo, vemos que pelo Batismo o cristão participa da vida gloriosa de Jesus ressuscitado. Por isso, Cristo deve preencher todos horizontes de sua existência. O desejo de viver a ressurreição de Cristo proporciona uma nova perspectiva à existência neste mundo. Como nos recorda o Vaticano II, os cristãos, caminhando até a cidade celeste, devem buscar e experimentar as coisas do alto, o que em nada diminui a importância da obrigação que se lhes é confiada de trabalhar com todos os homens na construção de um mundo mais humano. (GS 57).

    No Evangelho do Domingo de Páscoa (Jo 20, 1-9), temos o relato de um encontro com o Ressuscitado e o encontro com o sepulcro vazio: viram e acreditaram. Os discípulos que vão percebendo que aquilo que eles jamais imaginavam aconteceu: O Senhor venceu a Morte.

    Os quatro evangelhos relatam os testemunhos das santas mulheres e dos discípulos sobre a ressurreição gloriosa de Cristo. Tais testemunhos se referem a duas realidades: o sepulcro vazio e as aparições do Senhor ressuscitado. São João destaca que foram os apóstolos os primeiros a entrar e perceber os detalhes externos de que Cristo havia ressuscitado. O sepulcro vazio e os outros detalhes que foram vistos por Pedro e João são sinais perceptíveis pelos sentidos. A ressurreição, ao contrário, ainda que possa ter efeitos comprovados pela experiência, requer a fé para que seja aceita.

    Que cada um de nós possa traduzir cada vez mais a experiência pascal, em meio às nossas casas, famílias, trabalhos, testemunhando a alegria do ressuscitado.

    Em meio a uma cultura de morte e a um ambiente marcado pela violência, a Páscoa da Ressurreição surge como um grande alento para todo o povo: quem tem a vitória final não é o sofrimento, a injustiça, a violência, a dor ou a morte. A palavra final sempre será a da Vitória de Deus, a da Ressurreição de Cristo. Abraçamos a cruz de cada dia não porque amamos o sofrimento, mas pela certeza de que ele é caminho para a nova vida.

    Queridos irmãos e irmãs: através das chagas de Cristo ressuscitado podemos ver com olhos de esperança estes males que afligem a humanidade. Com efeito, ressuscitando, o Senhor não tirou o sofrimento e o mal que aflige a humanidade, mas venceu-os pela raiz com a superabundância da sua Graça. À prepotência do mal opôs a onipotência do seu Amor. Como caminho para a paz e a alegria deixou-nos o Amor que não teme a morte. “Como eu vos tenho amado – disse aos Apóstolos antes de morrer – assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”.

     Que ninguém feche o coração à onipotência deste amor que redime! Jesus Cristo morreu e ressuscitou por todos: Ele é a nossa esperança! Esperança verdadeira para todo o ser humano. Hoje, como fez outrora com os seus discípulos na Galileia antes de voltar para o Pai, Jesus ressuscitado envia-nos também por toda a terra como testemunhas da sua esperança e assegura-nos: Eu estarei sempre convosco até ao fim do mundo (Mt 28, 20). Fixando o olhar da alma nas chagas gloriosas do seu corpo ressuscitado, podemos compreender o sentido e o valor do sofrimento, podemos suavizar as muitas feridas que continuam a ensanguentar a humanidade ainda em nossos dias.

    Como nos recordou o papa Bento XVI: Nas suas chagas gloriosas, reconhecemos os sinais indeléveis da misericórdia infinita de Deus: Jesus é Aquele que cura as feridas dos corações despedaçados, que defende os fracos e proclama a liberdade dos escravos, que consola todos os aflitos e concede-lhes o óleo da alegria em vez do hábito de luto, um cântico de louvor em vez de um coração triste (Cf. Is 61,1.2.3).

    Se nos aproximamos d’Ele com humilde confiança, encontramos no seu olhar a resposta ao anseio mais profundo do nosso coração: conhecer Deus e ter com Ele uma relação vital numa autêntica comunhão de amor, que encha do seu próprio amor a nossa existência e as nossas relações interpessoais e sociais. Para isso, a humanidade precisa de Cristo: N’Ele, nossa esperança, fomos salvos.

    Que a celebração e a proclamação da Ressurreição de Cristo renovem todas as nossas esperanças. Deixemo-nos iluminar pela luz fulgurante deste Dia solene; com sincera confiança abramo-nos a Cristo ressuscitado, para que a sua vitória sobre o mal e sobre a morte triunfe também em cada um de nós, nas nossas famílias, nas nossas casas, em nossas ruas e bairros, em nossos hospitais, em nossos asilos, em nossas residências terapêuticas, em nossos presídios, repartições públicas, em nossa cidade, em nosso país e em toda terra.

     

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