Brumadinho: exemplo de um sistema que enlouqueceu

Ana Lydia Sawaya

A Vale foi a empresa brasileira que melhor remunerou sua diretoria em 2017. O presidente em exercício no período, Murilo Ferreira, recebeu R$ 60 milhões. Era o mesmo que presidia a companhia durante a tragédia de Mariana (MG), que claramente não afetou sua remuneração. No ano passado, os diretores da Vale ganharam, cada um, R$ 20 milhões. Para fins de comparação, a Vale destinou R$ 35 milhões para as 350 vítimas da tragédia até o momento, o equivalente ao salário anual de dois diretores ou metade do salário do presidente. Nos anos entre os fatos em Mariana e Brumadinho, a Vale teve um lucro líquido de R$ 42 bilhões.

Mas continuemos a refletir um pouco mais. É fácil perceber que o presidente da Vale ou seus diretores, mesmo que parassem de trabalhar e passassem a só gastar o dinheiro em viagens, hotéis caríssimos, iates, carros fantásticos, teriam muita dificuldade de gastar bem todo o dinheiro que recebem. Não há tempo na vida deles para gastar tudo, porque é demais. Além disso, o sistema financeiro dá mais lucro para quem tem mais dinheiro para investir, ao permitir que essa quantidade de dinheiro se multiplique com os juros. Quanto mais dinheiro têm para investimento, mais dinheiro ganharão. A quantidade de dinheiro é tanta que os filhos, netos e bisnetos não precisam trabalhar. Mas será que isso é bom para eles?

Muitos tentaram mudar o sistema capitalista, organizando outros sistemas que deixassem na mão de alguns “homens corretos”, sob o comando do Estado, as leis e as riquezas, para que se evitasse que o dinheiro e a ganância do livre mercado comessem tudo. Mas, como se pode ver na história do século XX e, agora, na Venezuela, quando alguns homens assumem um poder absoluto ou quase absoluto, também eles se tornam gananciosos facilmente. Antes de Hugo Chávez, algumas poucas famílias venezuelanas multimilionárias tinham o controle das fartas reservas de petróleo do País. Até que chegou Hugo Chávez e estatizou tudo. Hoje, já fugiram do País cerca de 4 milhões de venezuelanos, e quem ficou está passando fome.

Será que apenas mudar um sistema por outro é a solução? Isso não quer dizer que não haja sistemas mais justos e sistemas mais injustos. Mas vale lembrar aqui uma frase do poeta T.S. Elliot, quando diz que o ser humano se ilude “pensando em sistemas tão perfeitos que ninguém tem a necessidade de ser bom”. Não há dúvida para quem reflete um pouco que o nosso sistema econômico, ao concentrar tanta riqueza nas mãos de alguns poucos, enlouqueceu.

Para nós, cristãos, qual é solução? Só há um homem que viveu neste mundo com o poder de salvar o ser humano do mal irresistível, Jesus Cristo, Salvador do cosmo e da história. Não há outra alternativa. Todo o resto é ilusão. Jesus não se impôs com força, mas ofereceu a Si mesmo como amigo do ser humano, exortando-nos a nos unir a Ele num vínculo de amor e a seguir seu exemplo. “Quem permanece em mim e eu nele dará muito fruto”, e esse fruto permanecerá para sempre, para o nosso bem e o bem de todos (mesmo para aqueles que não o conhecem ou não querem acreditar nele). Cabe a nós, cristãos, ajudar a todos a compreender que não é o dinheiro e a ganância que preenchem o coração humano, mas que a caridade e a sobriedade são a fonte da verdadeira alegria. Cabe a nós oferecer o nosso testemunho para construir o País, por meio do nosso modo de viver e trabalhar, sobretudo ao pagar o justo salário aos empregados que porventura tivermos e dar-lhes segurança para poder trabalhar.

Ana Lydia Sawaya é professora da Unifesp, e Daniel Facchin Soares é economista.

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