Bispos do Regional Norte 3 apresentam carta de orientações para as eleições

Atendemos a muitas pessoas nos pedindo, nos provocando e nos cobrando orientações e apoios para as eleições de 28/10/2018. Não é do nosso feitio pedir votos para ninguém. Não somos donos do voto de ninguém. Temos apenas os nossos votos. Mas, como missão é ser sal da terra, luz do mundo, fermento na massa e bom perfume de Cristo, pareceu bem ao Espirito Santo e a nós, oferecer, a quem precisar, cinco gotinhas de colírios para ajudar no discernimento do voto:

Primeira gotinha: Eleições postadas nas redes sociais. Quem não se lembra das antigas eleições, cujos modus operandi eram os cartazes, chamados indevidamente de “santinhos”, as visitas domiciliares, as passeatas, os comícios e os showmícios? Hoje estão fora de moda e em desusos, perderam a eficácia e a validade. Em seus lugares, surgiram as plataformas das redes sociais, sobretudo, das fakenews (notícias falsas). O papa Francisco, na sua sabedoria, as chama de “táticas da cobra”, como as que manipularam Adão e Eva no Jardim do Éden. Tentados a comer o fruto da árvore proibida, se deixaram influenciar pelas informações enganosas. Ali foi formulada a primeira notícia falsa. Ali nasceu o pecado original do indivíduo. Nas fakenews nascem o pecado original da comunidade. Elas são estratégias inteligentes, produzidas pelos pais das mentiras (produtores das fakenews) com seduções traiçoeiras e perigosas e argumentos falsos e atraentes. Como percebe o ciberbullyng nessas eleições? Quem está fazendo hoje o papel de serpente venenosa? Você leva em conta e consegue decodificar as notícias falsas das verdadeiras?

Segunda gotinha: Eleições pelo medo da quebra de ordenamentos democráticos. As redes sociais são hoje o quarto poder. Segundo o papa Francisco são as “táticas da cobra” que levam à ditadura: ”são assim que as ditaduras começam, adulterando a comunicação, para colocá-la nas mãos de uma pessoa sem escrúpulos, de um governo sem escrúpulos”. Sobre isto ele narra a história de Nabot. Ele era dono de um terreno. Não querendo se desfazer, por ser herança de seus pais, sofreu,da parte do rei Acab e de sua esposa, uma campanha de difamação, até à morte. O rei tirou-lhe a posse do terreno e a sua vida através de mentiras. Comunicar escândalos é algo de sedução enorme.As boas notícias não são tão sedutoras quanto as más notícias. Hoje seduzimos com escândalos,disparados e replicados.Com isto a democracia corre risco. A ditadura comumente adultera a comunicação: um lado se diz que o Brasil vai voltar à ditadura militar; do outro lado se diz que vai se tornar uma Venezuela. Quem está com a verdade?A impressão, no entanto, que temos é que o povo, em geral, não entende, não quer entender ou não admite que a democracia no Brasil corre sérios riscos nestas eleições. É impressão nossa ou é a verdade?

Terceira gotinha: Eleições marcada pelo voto-ódio.Um dos elementos-chave de uma eleição é o voto livre, soberano e secreto. O voto é a expressão máxima da cidadania. A impressão que temos é que muitos estão votam mais pelo ódio dos dois “antis”: “anti-partido”x“anti-candidato”. Se assim for, trata-se de um voto viciado. É mais um voto reativo e negativo do que um voto proativo e propositivo. Voto mais pelo ódio do que pela cidadania e democracia. A antítese criada, “comunismo” x “fascismo”, precisa ser melhor explicada e desfeita. O papa Francisco afirma que o ódio é uma forma de assassino.  “Desprezar o irmão é fazer como Caim que, quando Deus lhe perguntou onde estava seu irmão Abel, respondeu: “Por acaso sou guardião do meu irmão”? As notícias falsas têm raízes na sede de poder e podem ter efeitos perigosos. Odiar é o primeiro passo para matar. O ódio não se vence com mais ódio. Se vence com o amor e o perdão. Passar do ódio ao amor não é um passo fácil de ser dado, mas é o que leva à justiça e à paz. Odiar é o primeiro passo e o primeiro tiro para matar. E não matar é o primeiro passo para amar. Vale a pena votar mais pelo ódio do que por consciência e por divergência políticas?

Quarta gotinha: Eleições mais pelos viés ideológico e doutrinal do que social. Nestas eleições é comum ver e ouvir gente defendendo o seu voto mais por doutrina do que pelo social. Somos os primeiros a defender a doutrina. Esperar que sejamos contra é uma temeridade. Damos, como exemplo, o aborto. Somos totalmente contra o aborto claramente, firmemente e apaixonadamente. Mas defendemos a vida, desde o nascituro até à morte natural. É no mínimo contraditório defender o aborto e não se comprometer com políticas públicas que deem condições às crianças nascerem e viverem com dignidade. Palanque não é altar e nem altar é palanque. Achamos que doutrina não é a primeira missão de um candidato a presidente da República. Além do mais, o discurso apologético, que beira a fanatismo, a temas religiosos, mas cheio de ódio, de agressividade e de preconceito é, no mínimo, contraditório, porque está em desacordo com o evangelho de Jesus Cristo. Dado a laicidade do Estado, a função primeira do governo é priorizar as questões doutrinais em detrimento das questões sociais? Que Deus é defendido nos palanques desta campanha política? O Deus das eleições é realmente o Deus cristão?

Quinta gotinha: Eleições mais pelo levante da bandeira da anti-corrupção. Muito se fala da corrupção nestas eleições. Contra, evidentemente. A corrupção virou protagonista nestas eleições. Mas, quem pode ser a favor da corrupção? Estamos pagando um preço muito alto por adotar a corrupção como arte e como forma de governar.Corrupção é crime e é pecado. O papa Francisco, mais uma vez, usa uma metáfora para falar contra a corrupção: “a corrupção é um terreno pantanoso. É como pântanos que te sugam, em que pisa e quer sair, e dá um passo e entra mais ainda. É a destruição da pessoa humana. Pecadores, sim, corruptos, não”.O remédio para esta doença é o Evangelho de Jesus Cristo. Como explicar que quem faz discurso contra a corrupção use da corrupção para se eleger? Como acreditar em tais promessas?

São basicamente estes os maiores motivos para amar ou odiar, combater ou defender um dos candidatos que disputam o segundo turno destas eleições. No campo político, a neutralidade é o posicionamento pelo mais forte, pelo poder e pelo status quo. Às vésperas do segundo turno destas eleições, lamentamos, com angústia, o rumo que o Brasil está tomando. Que não percamos a esperança. Finalmente, esperamos que estas cinco gotinhas de colírio sejam suficientes para clarear os olhos e as mentes e desarmar as mãos e os corações. Orientado pela Igreja e guiado pela consciência cidadã, desejamos a todos felizes eleições!

Dom Pedro Brito Guimarães, Arcebispo de Palmas – TO
Dom Giovane Pereira de Melo, Bispo de Tocantinópolis – TO
Dom Philip E. Roger Dickmans, Bispo de Miraceman do Tocantins – TO

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