Arcebispo de Mossul fala sobre processo de reconstrução

Dom Petrus Mouche Dom Petrus Mouche

Agora que Mossul foi liberada, poderão os cristãos retornar em breve para as suas casas? Segundo Dom Petros Mouche, arcebispo católico siríaco da segunda maior cidade do Iraque, ainda é muito cedo para isso, mas ele enfatizou a importância de aprender com os acontecimentos passados e da restruturação da paz.
Oliver Labesse (ACN): Dom Petros Mouche, como o senhor recebeu a notícia da liberação de Mossul?

Dom Petros Mouche: Foi como um sinal de esperança para nós cristãos. Para nós, cristãos católicos síríacos no Iraque, a liberação é, naturalmente, uma causa de grande alegria porque a maioria das pessoas da minha diocese estava instalada nos arredores de Mossul e em Qaraqosh. Hoje, Mossul está completamente destruída. Oficialmente, todas as partes da cidade foram liberadas.
De fato, tudo precisa ser reconstruído. Mas então quando os cristãos poderão retornar para Mossul?

Ainda é muito cedo para isso. Talvez dentro de alguns anos. Eles retornarão de tempos em tempos para verificar suas casas, mas atualmente não há condições para ficar permanentemente em Mossul. Por outro lado, já se pode retornar à Planície de Nínive. Várias famílias já chegaram lá. Alguns até já conseguiram trabalho, outros estabeleceram algum comércio: restaurantes, lojas e outros. É preciso muita coragem para começar do zero!
Além das operações militares, o que se pode fazer contra o grupo Estado Islâmico (EI)?

Aqui está a grande dificuldade: conseguir realmente mudar de mentalidade. Diante destas ideologias excêntricas, tem de se entender que a guerra não é a solução. É preciso saber conviver. Sempre comvivemos juntos e, no passado, não tínhamos dificuldades… Esses acontecimentos (como a liberação da cidade) fazem com que tenhamos esperança de um recomeço de vida e de que as pessoas aprendam a novamente conviver. Todos estão fartos de guerras… Tem havido guerras no Iraque desde 1958. Temos que aprender a viver em paz.
O que gostaria de dizer aos benfeitores da ACN?

Gostaria, sem dúvida, de expressar meus mais sinceros agradecimentos. Sempre sentimos a presença de vocês aqui entre nós. É uma grande graça poder contar com o seu apoio. Além disso, os cristãos católicos siríacos foram o grupo mais atingido. Eles representam 60% dos refugiados na Planície de Nínive. Mas sabemos que não nos faltará ajuda.

O apoio da ACN

“A ACN – Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre – se alegra pela liberação de Mossul. Esse é um momento crucial na história dos cristãos iraquianos e precisamos fazer o possível para auxiliar aqueles que estão retornando para suas casas. Ao mesmo tempo que se faz necessário rezar por reconciliação, para que os novos fundamentos da reconstrução possam assegurar o futuro dos cristãos no Iraque”.
Regina Lynch, Diretora de Projetos da ACN

Os desafios que os cristãos da Planície de Nínive enfrentam são enormes. Há atualmente 14 mil famílias registradas que fugiram de Mossul e da Planície de Nínive e que estão vivendo em Erbil, cerca de 90 mil pessoas ao todo. Aproximadamente 13 mil casas precisam ser reconstruídas. Além disso, há grande preocupação com relação à segurança das aldeias cristãs, ainda incerta devido às manobras políticas iraquianas e curdas, somada às questões de infraestrutura (água, eletricidade, transporte, educação e saúde). Importantíssimo também é o suporte necessário para as famílias no período entre o fim dos projetos correntes de aluguel e cestas básicas e o retorno das famílias para as aldeias reconstruídas. De acordo com as últimas pesquisas do Comitê de Reconstrução de Nínive, no dia 20 de junho de 2017, 599 famílias já tinham retornado para a Planície de Nínive e 342 propriedades tinham sido reformadas, das quais 157 foram restauradas com contribuições fornecidas pela ACN.

Desde que a crise começou, a ACN tem prestado ajuda de emergência aos cristãos refugiados e deslocados no norte do Iraque por meio de inúmeros projetos de fornecimento de alimentos, medicamentos, educação, moradia, auxílio pastoral e reconstrução.

Fonte: ACN

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