Alegrem-se na misericórdia

    Neste 24º Domingo do Tempo Comum a palavra de Deus, neste mês de Bíblia que ora vivemos nos fala da oportunidade da conversão e da experiência da misericórdia. O rosto de Deus que nos é mostrado nos fala da esperança em tempos de graça e de paz. Neste mundo de tantos ódios somos chamados a experimentar o amor de Deus para, como consequência, amarmo-nos uns aos outros. Uma grande missão temos pela frente.

    Todo cristão deve ser apóstolo. Trata-se de uma exigência do próprio batismo. Caso não tenhamos o desejo de aproximar as pessoas de Deus, de leva-las às fontes da graça, de sofrer e rezar pela salvação delas, perguntemo-nos se realmente amamos a Deus e se estamos convencidos da fé que professamos e vivemos. Na verdade, se a nossa fé é operativa, evangelizar será uma consequência necessária. Deveríamos vibrar, alegrar-nos verdadeiramente por cada pessoa que entra na Igreja, essa comunidade de salvação.

    A fé é o melhor presente que se pode oferecer a alguém. Diante dos valores da fé até a vida se relativiza, todos os mártires de Cristo mostraram que isso é assim mesmo. Nós, católicos, precisamos estar mais convencidos de que temos na Igreja toda a verdade e de que podemos fazer um grande bem à humanidade ao oferecer-lhe Cristo, a Verdade (Cf. Jo 14,6). Por outro lado, saber-se na Casa da Verdade, que é a Igreja, não nos autoriza a ser intolerantes com as pessoas. É certo: a Igreja é “a coluna e sustentáculo da verdade” (Cf. 1 Tm 3,15), somos servidores da verdade. Ademais, a nossa vida não se modela sempre pela verdade que conhecemos, professamos e amamos… basta pensar nos nossos próprios pecados.

    Em Lc 15, 1-32, na introdução, os fariseus criticam Cristo porque “acolhe gente de má fama e come com eles…”. Esta crítica provoca a resposta de Jesus com as três parábolas da misericórdia que ilustram a atitude misericordiosa de Deus para com os pecadores: a ovelha perdida; a moeda perdida; o filho pródigo (perdido). Em todas elas dá importância muito particular à alegria daquele que encontra o que tinha perdido. O pastor, depois de encontrar a ovelha, “coloca-a nos ombros com alegria”, regressa à casa e convoca os amigos e vizinhos para que se alegrem com ele. A mulher, depois de ter procurado por todos os recantos da casa, ao encontrar a moeda perdida, faz a mesma coisa: “alegrai-vos comigo, porque achei a moeda perdida!” (Cf. Lc 15,6). Muito mais faz o pai ao ver ao longe o filho que volta e que há tanto tempo tinha abandonado a casa paterna; não pensa em recriminá-lo, mas em fazer uma festa!

    O personagem central destas parábolas é o próprio Deus (que é PAI), que lança mão de todos os meios para recuperar os seus filhos feridos pelo pecado. “No seu grande amor pela humanidade, Deus vai atrás do homem, escreve Clemente de Alexandria, como a mãe voa sobre o passarinho quando este cai do ninho; e se a serpente começa a devorá-lo, esvoaça gemendo sobre os seus filhotes (Dt 32, 11). Assim Deus busca paternalmente a criatura, cura-a da sua queda, persegue a besta selvagem e recolhe o filho, animando-o a voltar, a voar para o ninho”.

    O pecado, tão detalhadamente descrito na parábola do filho pródigo, consiste na rebelião contra Deus, ou ao menos no esquecimento ou indiferença para com Ele e para com o seu amor, no desejo tolo de viver fora do amparo de Deus, de emigrar para uma terra distante, longe da casa paterna. Como se passa mal quando se está longe de Deus! “Onde se passará bem sem Cristo – pergunta Santo Agostinho -, ou quando se poderá passar mal com Ele?”

    “Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Cf. Lc 15, 20). Acolhe-o como filho imediatamente! Estas são as palavras da Bíblia: cobriu-o de beijos. Pode-se falar com mais calor humano? Pode-se descrever de maneira mais gráfica o amor paternal de Deus pelos homens? Perante um Deus que corre ao nosso encontro, não nos podemos calar, e temos que dizer-Lhe, como São Paulo: “Abbá, Pai” (Rm 8,15). Quer que Lhe chamemos de Pai, que saboreemos essa palavra, deixando a alma inundar-se de alegria.

    Essa parábola deve nos despertar para a beleza do sacramento da Reconciliação (confissão). Na Confissão, através do sacerdote, o Senhor devolve-nos tudo o que perdemos por culpa própria: a graça e a dignidade de filhos de Deus. Cumula-nos da sua graça e, se o arrependimento é profundo, coloca-nos num lugar mais alto do que aquele em que estávamos anteriormente. Não tenhamos medo de nos aproximar do confessionário e buscar a absolvição sacramental.

    Contudo, o Senhor nos convida hoje a acolher em Jesus a misericórdia incansável de Deus para conosco, um Deus que não sossega até nos encontrar… Mas, nos convida também a ser misericordioso para com os outros. É triste quando experimentamos que somos pecadores, experimentamos a bondade acolhedora de Deus para com nossos pecados e, depois, somos duros, insensíveis e exigentes em relação aos irmãos. Que o Senhor nos dê um coração como o coração de Cristo, imagem do coração do Pai, capaz de acolher o perdão e a misericórdia de Deus e transbordar esse perdão e essa misericórdia para com os outros. Amém.

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