Absoluto e obsoleto

    O absoluto é tudo e o obsoleto nada. Assim podemos entender o significado dessas duas palavras com sonoridade e diagramações silábicas quase iguais, mas com significações antagônicas. Tomo-as como fonte de uma reflexão, motivado pelo desejo de nelas encontrar sentido para muitos dos fatos que circundam nossa existência. Vivemos o absolutismo de nossas vontades, ambições e ideais de vida, sem, no entanto, nos dar conta de quão obsoleta é uma existência atrelada aos desejos pessoais apenas. Quem vive só para satisfação dos próprios anseios perde-se no emaranhado de uma existência fútil, sem sentido.

    A primeira grande significação para o absoluto é ser este algo ou alguém não dependente do outro ou de qualquer outra coisa. Por si só se basta. É superior a tudo, a todos os demais. Quem assim se sente imerge numa bolha de individualismo e isolacionismo que só lhe causará danos, em todos os aspectos. Não há ser vivente com tamanhas qualificações, que seja capaz de conduzir sua existência voltada para si próprio, sem correspondência ou convivência com um semelhante. Nem Deus, o Absoluto por excelência, quis para si tal privilégio… Dele dizemos ser o Superior a todos e em tudo, o único onipotente, onisciente e onipresente, mas Ele próprio se fez um igual e na sua deidade se nos apresentou numa comunidade trina. Ou seja, o Absoluto desejou se relacionar com o obsoleto que somos e nos deu a oportunidade de nos igualarmos a Ele, através de seu Filho e de seu Espírito santificador.

    O obsoleto já não serve para nada. Caiu em desuso. Como aquele que teimou em provar o fruto da árvore da sabedoria e dela só aproveitou o sabor amargo da desilusão, da decepção… Essa foi a maior das quedas humanas, cujo pecado de se igualar a Deus o fez um ser obsoleto, triste, sem outras ambições que aquelas do paraíso terreno, que a morte e a desilusão corroem e enterram nas nossas covas sepulcrais. De nada nos servirá a empáfia de uma vida atrelada à matéria. Destas não nos sobrarão nada. Nem mesmo o obsoleto daquilo que julgamos nossa riqueza, nossa sabedoria.

    Observar esses paralelos em nossas vidas é absorver um significado maior para nosso traçado existencialista.  Buscar um meio termo é o que nos ensina a fé, essa que o próprio Deus nos revelou através de seu Filho, o novo Adão a reescrever nossa história. Aliás, foi isso o que me escreveu um amigo, ao comentar um dos meus artigos. Disse Fonseca: “Observar, absorver o Próprio… Misture as letras das palavras observar e absorver e veja que as mesmas vogais e consoantes formam palavras diferentes com letras iguais. Quem observa, absorve Deus em todos”, concluiu. Quem compreende o Absoluto deixa de ser obsoleto. Porque nesta guerra de palavras em que nos metemos, o que nos sobra é a consciência de que nada somos, nada temos, senão a glória de sermos gerados do coração de um ser Superior, que nos deu uma existência capaz de tudo, menos de absorver por completo sua grandeza e sabedoria. Mas a serpente das maledicências humanas ainda sussurra no ouvido de muitos: “Não, vossa morte não está marcada. É que Deus sabe que no dia em que comerdes (do fruto da sabedoria absoluta), vossos olhos se abrirão e sereis como deuses, possuindo o conhecimento do que seja bom ou mau” (Gen, 2, 4-5). E deu no que deu. Perdemos o Paraíso. Observar e absorver tudo isso é respeitar o Absoluto (o Deus da vida) e não se tornar obsoleto em sua própria vida. Deus é Soberano e Absoluto; nos somos relativos e obsoletos…

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