“A Igreja da Amazônia tem um rosto feminino”, afirma Pe. José Boeing

Em véspera de Sínodo Amazônico, que acontece em outubro, no Vaticano, o mundo se volta às realidades vividas naquela região que propõe uma Igreja com estilo simples e humilde. Segundo o missionário verbita, Pe. José Boeing, o encontro dos bispos deve avaliar esse rosto da Igreja na Amazônia que é sobretudo feminino, mas também traz o clamor dos leigos, dos indígenas, dos pescadores e dos agricultores.

Bernd Hagenkdord, Andressa Collet – Cidade do Vaticano

Na Encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco recordou a simplicidade e harmonia vivida por São Francisco de Assis com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Uma preocupação nítida “pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior”. Assim também se reflete a Igreja de hoje na Amazônia. Segundo Pe. José Boeing, “uma Igreja com estilo simples e humilde, com tudo sendo partilhado pelo povo”.

O missionário dos Verbitas é natural de Manoel Ribas, no Paraná, estudou Filosofia e Teologia, e ainda tem graduação em Direito, com registro na OAB. Ordenado na década de 90, foi destinado pela Congregação do Verbo Divino a trabalhar na Amazônia, onde atua há quase 30 anos e ajuda a levar o Evangelho onde a Igreja não é autossuficiente e precisa de auxílio. Pe. José aprendeu desde cedo o que é ser missionário, já que vem de uma família de agricultores e de imigrantes alemães.

Missionário verbita é uma voz da floresta e dos nativos

O encanto pela Amazônia e pela diversidade dos povos e espécies se reflete no seu trabalho pelas principais necessidades dos indígenas e no engajamento pelo bem de um bioma importante para toda a humanidade – e ainda assim desconhecido por muitos brasileiros. Pe. José sempre foi comprometido com a floresta e com os direitos dos nativos da Amazônia, um povo generoso formado por índios, negros, camponeses, caboclos e ribeirinhos, mas também um povo sofrido, cheio de esperança e fé por uma vida melhor.

Verbitas de 14 países estão em missão na Amazônia

Em véspera de Sínodo Amazônico, que acontece em outubro, no Vaticano, o mundo se volta às realidades vividas naquela região.

“A nossa expectativa é que hoje o mundo está olhando para a Amazônia a partir do Sínodo. Isso significa que já estamos fazendo algo por aqui e podemos fazer mais, com certeza. A nossa esperança em relação ao Sínodo é que abra essa porta, a partir da Igreja, olhando com o olhar da Criação – a integridade da Criação, pois tudo está interligado: ligar a terra ao ser humano”, afirma o missionário.

Pe. José é um dos mais de 6 mil missionários verbitas presentes em 70 países do mundo. Na Amazônia, o também advogado chegou a trabalhar por uma década com a Irmã Dorothy, natural dos Estados Unidos, religiosa da Congregação de Notre Dame de Namur, engajada no diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas que foi assassinada há quase 15 anos. Também comprometido na luta contra as forças externas que procuram explorar as riquezas naturais da Amazônia, o Pe. José chegou a receber ameaça de morte em 2006 por trabalhar “em prol da justiça, da ecologia e da integridade da criação”, (cfe. Carta Aberta dos Verbitas reunidos em Capítulo Geral em Roma, em 10 de junho de 2006).

Pe. José tem se comprometido com a Amazônia há cerca de 30 anos

A força dos leigos e das mulheres

Para o Sínodo de outubro, a esperança de um olhar voltado para a Amazônia no seu contexto diário de vida, da busca por soluções à exploração do meio ambiente até questões práticas de uma Igreja com perfil humilde, mas que precisa da força dos índios, dos leigos e das mulheres. Pe. José complementa:

“É uma realidade difícil. Por exemplo: o celibato para os indígenas, é possível ou não? As mulheres nas suas atuações nas comunidades, os leigos engajados, … O Sínodo vai ajudar a dar mais apoio aos leigos consagrados na missão. Eu acredito muito nessa força dos leigos para uma Igreja mais servidora, humilde e mais presente na vida do povo. E aí o clamor da mulher é muito presente.”

“ A Igreja da Amazônia tem um rosto feminino, esse rosto da mulher, esse rosto indígena, do pescador e do agricultor. Queremos propor à Igreja do mundo esse estilo simples e humilde, com tudo sendo partilhado pelo povo. Agradeço a todos que estão lutando por uma Igreja mais servidora na nossa Amazônia, pelos direitos, pela justiça e pela paz. ”

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